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Carlos Tico
Quando falamos sobre futebol femininoouvimos frequentemente nomes de grandes clubes e figuras icónicas. Mas o futuro do futebol começa em lugares mais simples, em clubes de bairro como o CP Sarriá. Este clube histórico não só aposta fortemente no futebol feminino, como se destaca por ser liderados por mulheres: a presidente, Puri Romero, e a vice-presidente, Carme Farré. Ambos estão transformando o clube com uma visão inclusiva e inovadora.
“Demos um passo em frente e apostamos na igualdade no futebol”explica o presidente a El Jardí. E este passo foi decisivo. Há apenas três anos, o CP Sarrià iniciou o seu projecto de futebol feminino com uma equipa juvenil repleta de raparigas que nunca tinham jogado. Agora, o clube já conta com três times femininos: cadete, infantil e juvenil. “Estamos crescendo”confirma o coordenadora de futebol feminino e treinadora de cadetes, Alex Guerra. “O objetivo nunca foi vencer, mas sim aprender e melhorar com o tempo. E conseguiram, ao ponto de sermos uma das melhores equipas”, acrescenta Alex.
“O objetivo nunca foi vencer, mas sim aprender e melhorar com o tempo. E eles conseguiram, a ponto de sermos uma das melhores equipes”
Àlex Guerra, coordenadora de futebol feminino
O ‘boom’ do futebol feminino no CP: mais meninas do que vagas disponíveis
Esse crescimento, no entanto, trouxe desafios. A procura por meninas que querem jogar no CP Sarrià é muito alta e o clube não pode acomodar todos eles. “Infelizmente tivemos que dizer a muitas famílias que não podíamos aceitar mais jogadores”admite o coordenador. Porém, o clube mantém um tratamento impecável com todos e chega a entrar em contato com essas famílias no ano seguinte. “Somos um clube próximo e familiar”acrescenta Carme, que destaca o quanto as mães das jogadoras valorizam muito a gestão feminina do clube. “Às vezes chega uma mãe e nos fala: ‘Já dá para perceber que tem mulher’; eles estão muito entusiasmados e nos parabenizam”, diz Puri.
“Às vezes chega uma mãe e nos fala: ‘Já dá para perceber que tem mulher’; eles estão muito entusiasmados e nos parabenizam”
Puri Romero, presidente do CP Sarrià
O CP Sarrià é de facto um clube único. Com apenas alguns 35 parceirosconseguiu criar uma atmosfera de coesão e continuidade. “Este ano, mais de 400 jogadores quiseram se inscrever para jogar aqui”Romero diz com orgulho. “Graças à visão que transmitimos de fora, tentamos fazer com que todos os jogadores joguem e se divirtam, e as famílias apreciam isso”, explica. Esta visão contrasta com outros clubes maiores, onde muitos jogadores se tornam apenas mais um número. “Aqui eles são sempre o jogador 5, não o jogador 20”enfatiza o presidente. Alguns juniores, quando crescem e ficam mais competitivos, vão para outras equipes e enfrentam esse problema.
“Este ano, mais de 400 jogadores quiseram se inscrever para jogar aqui”
Romero Puro
A gestão humana e horizontal do Puri e do Carme
A gestão de Puri e Carme trouxe um ar diferente ao clube. “Quando Pitu, o presidente histórico que durou cerca de 70 anos no cargo, nos deixou as chaves, ele o fez porque confiava em Puri, como se ela fosse sua filha”lembra Carmem. Esta confiança deu origem a um novo modelo de gestão, mais organizado e horizontal. “Diante de uma estrutura de mais de 400 jogadores sempre temos dúvidas, mas todos nos ouvimos e formamos um time. Tentamos fazer com que todos os jogadores e treinadores se sintam amados e ouvidos“, enfatiza o presidente.
“Quando Pitu nos deixou as chaves, ele fez isso porque confiava em Puri, como se ela fosse sua filha”
Carme Farré, vice-presidente da CP Sarrià
O futuro da CP Sarrià é otimista. O presidente e o vice-presidente pensam nos próximos anos do futebol feminino. “Esperamos que no futuro o futebol feminino se iguale ao masculino”diz Carmem. Apesar de consciente das dificuldades, Puri Romero sonha com uma igualdade real. “É preciso saber diferenciar o que você gostaria do que você acha que realmente vai acontecer”reflete.
“Esperamos que no futuro o futebol feminino se iguale ao masculino”
Carmem Farré
Barça, uma referência
Enquanto isso, a inspiração vem dos grandes marcos. “O Barça teve muito que fazer”, garante Àlex Guerra. “Pela primeira vez as meninas têm referências como Alexia ou Aitanaalgo que os meninos sempre tiveram”, acrescenta. Esta mudança de paradigma reforça o compromisso do clube com o futebol feminino.
“O Barça teve muito a ver com isso. Pela primeira vez, as meninas têm referências como Alexia ou Aitana”
Alex Guerra
CP Sarrià é uma família. Uma família onde as mulheres lideram, onde o futebol feminino tem futuro e onde cada menino e menina que entra sabe que se sentirá ouvido e será mais. “Moro em Sarrià e estou ligado lá há muitos anos. Quando me ofereceram para dirigir o clube, queria fazer um projeto pessoal, além de deixar para trás o protótipo dos homens à frente dos clubes de futebol“, finaliza Puri Romero. Vamos CP!