opinião
Eva Ceano-Vivas Tremosa, Conselheira de Barcelona na Comuna de Sarrià-Sant Gervasi
Sarrià está cercada de riachos antigosos maiores são os que correm no subsolo pelo que chamamos hoje Avenida JV Foix eu Via Augusta. O curso das águas impediu a passagem e a renovação da cidade, por isso ocupam agora um espaço diferente. O mesmo destino foi o comboio Sarrià, que passou da estrada para os carris subterrâneos dando lugar a um novo espaço. Estamos num momento em que os carros fazem o mesmo, vão da superfície ao subsolo para dar lugar à cidade das pessoas.
Para preparar este artigo peguei na memória e claro, também no Google. A memória me leva a um Via Augusta de terra e juncoonde brincamos de esconde-esconde, uma fábrica de doces, uma marcenaria e uma ponte para chegar aos correios. Tudo terminou com algumas obras, que obrigaram os carros a passarem para o subsolo em vez de subirem a montanha. Foi construído em estacionamento subterrâneo do Portão de Sarrià para não perder vagas de estacionamento e numa parte dessa obra, onde havia sujeira, colocaram laje, van colorir jogos infantis e mais uma vez o espaço foi recuperado pelas pessoas e começou aos poucos a encher de vida.
O Google me retorna vários artigos que chamam minha atenção um estudo RACCum clube que, há muitos anos, deixou de identificar os associados pela placa do veículo que possuíam e passou a focar nas pessoas que o dirigiam. Este estudo afirma: “Dar prioridade aos cidadãos que se deslocam a pé ou em sistemas de transporte não motorizados proporciona vantagens importantes para o convivência e tranquilidade do espaço público, bem como da qualidade ambiental urbana. Para os residentes, porque a poluição sonora e atmosférica é reduzida e a superfície para a sua mobilidade e a sua inter-relação aumenta. Para os comerciantes, porque o seu volume de negócios aumenta. Em suma, para todos os cidadãos, mesmo que não vivam ou trabalhem na zona pedonal, porque melhoram os itinerários pedonais e reduzem o risco”.
Ambas as pesquisas me levaram à mesma conclusão, onde há espaço para diversão e recreaçãoos cidadãos tornam-no seu, utilizam-no e o a convivência melhora. Estamos a falar de ter um espaço para brincar, passear, andar de bicicleta, descansar à sombra, conversar, rir, fazer mercados, um espaço para as atividades das entidades, enfim um espaço para continuarmos a ser pessoas do Mediterrâneo!
Para termos esses espaços devemos realocar todos esses elementossejam córregos, trens ou no caso em questão, carros, em outro espaço. O enterro é a solução encontrada ao longo da história da cidade. Precisamos de combinar onde estacionar, para todas aquelas pessoas que, por qualquer motivo, não têm, para já, a possibilidade de se deslocar em transportes públicos, de bicicleta ou a pé, com a necessidade dos cidadãos usufruirem do espaço público.
Ultimamente, há muita sensação de que se as ciclovias ou os espaços para pedestres não forem utilizados com frequência, com base em parâmetros inteiramente subjetivos, eles deverão desaparecer. Este argumento não é ouvido, contudo, quando não há muito trânsito nas ruas da cidade. Existem diversas ruas no bairro onde menos carros passam do que bicicletas nas ciclovias ou menos que o número de meninas e meninos que brincam fora de Sarrià e não ouvimos dizer que esses espaços querem ser transformados em parques.
Os espaços não estão mortos e nem a Porta de Sarrià, nós os matamos quando eles não existem. Os cidadãos têm a liberdade de utilizar os espaços quando quiserem e nenhum governo pode impor um uso ou outro, o que uma administração deve fazer é disponibilizar espaços para as pessoas e cada um decidirá se os utilizará. Teremos coragem de continuar propondo uma cidade mais limpa, mais gentil, mais cordial, mais segura para os estudantes da cidade ou ficaremos impassíveis enquanto os carros invadem os espaços conquistados por nós, o povo?