Barcelona na chave de uma mulher

Artes e letras

Marina Barraso

violeta_hora_2Apesar de ter nascido no Eixample de Barcelona, ​​o bairro de Sant Gervasi está intimamente ligado à vida e obra literária de Montserrat Roig (Barcelona, ​​​​1946-1991). Foi aluna do Instituto Montserrat, localizado na Carrer Copèrnic, do qual lembrou com carinho em artigo publicado em Tele/Expressoem 1975: “Bom, quando entrei no Instituto Montserrat, a primeira coisa que me surpreendeu foi aquele jardim no meio da cidade. Era o jardim de Montserrat, um jardim amplo, de formas irregulares, talvez um pouco agrestes, transbordante de vegetação, cheio de espaços misteriosos e um pinhal que descia em suave declive. Aquele jardim significou liberdade para mim.”

Declaradas apaixonadas por Barcelona, ​​​​“como moramos no apartamento de Barcelona pareço mais jovem, mais bonita”1, as protagonistas de seus romances dão uma visão própria, humanizada e cheia de vida da cidade. “Barcelona não é Londres, nem Paris, nem Nova Iorque. Estas cidades podem dar-se ao luxo de ser localistas: ninguém as censurará. Já o Barcelona passa por temporadas em que não é nada apreciado. Parece-me que há poucas cidades no mundo ocidental que se olham tantas vezes no espelho e se perguntam se são mais bonitas que a Branca de Neve”2.

Para Ramona, adeuspara Hora das cerejasA hora violetatrilogia que constitui a maturidade literária de Montserrat Roig, três gerações de uma mesma família nos conduzem pela Barcelona do século XX, passando pelo bairro de Sant Gervasi. A geração mais velha e com menos recursos vive no Eixample, mas depois, com o enriquecimento da família, os personagens deslocam-se para a parte alta da cidade. Na verdade, é justamente o irmão do protagonista que se mudará para um duplex na movimentada rua Santaló.

Mas Montserrat Roig, além de conceder esse olhar carinhoso de Barcelona, ​​tornou-se um ícone da luta pelo status da mulher durante as últimas décadas do século passado. E ele corajosamente questionou, especialmente um A hora violetao cinza da Barcelona de Franco, numa perspectiva feminina, feminista e sobretudo esperançosa,

“Hoje me mandaram de volta à missa porque eu não estava de meia. Senti uma raiva muito profunda, mas não ousei responder. Sinto falta dos dias que passei na guerra, com Kati. Quando eu caminhava com Kati, de mãos dadas, por uma Barcelona de pernas para o ar que cheirava a casca de laranja. Esta cidade está morta, só há quietude. As mulheres ficaram chorosas. Homens, vulgares”3.

1 Ramona, adeus. Montserrat Roig Edições 62. 1972

2 Vista aérea de Barcelona. Montserrat Roig e Xavier Miserachs. Edições 62. 1987.

3 A hora violeta Montserrat Roig Edições 62. 1980.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *