reportagem
Natália Avelan
“O resultado não importa!” é ouvido repetidamente em todo o campo de futebol. Jovens em situação de vulnerabilidade social, protegidos pela Fundação Putxetreúnem-se todas as terças e quintas-feiras nas instalações do Fundação Brafa. Durante duas horas, desfrutam de momentos de lazer, o que ao mesmo tempo lhes permite fortalecer valores fundamentais através da atividade esportiva. Muitos deles são jovens migrantes que, no meio da adaptação a um novo ambiente e da pressão de um longo processo burocrático, encontram uma rota de fuga quando calçam as chuteiras.
A Fundação Putxet, localizada no bairro de Sarrià – Sant Gervasi, é um centro que cuida para atender os jovens – entre 18 e 25 anos – em situação de um sério risco de exclusão social. Graças ao apoio dos educadores, é oferecido aconselhamento jurídico e apoio psicológico para o doze pessoas que tenham capacidade para servir a entidade. Algumas das tarefas realizadas no centro são a detecção de problemas, a formação através de um programa educativo, a manutenção de hábitos e a colocação profissional, entre outras.
Além disso, a partir da Fundação Putxet, são promovidas atividades esportivas Projeto SPESorganizado pela Fundação Brafa de Nou Barris. Esta iniciativa atende jovens em desemprego de longa duração -de diversas organizações como Cruz Vermelha, Movimento por la Paz e Cáritas, entre outras- e os coordena para participar de treinos e jogos de futebol autogeridos.
Um jogo que continua fora do campo
“O boca a boca funciona muito. Muitas vezes chega um jogador e no dia seguinte traz os amigos para treinar”, explica. Roger Pasoladiretor do programa SPES da Fundação Brafa. Um exemplo desta dinâmica é o caso de Roland Fossoescritor camaronês e especialista em imigração. Roland tomou conhecimento do projeto através do seu envolvimento na Fundação Putxet. Desde então, tem estado profundamente envolvido na equipa, onde assumiu a função do treinador. “O que fazemos aqui é pouco, mas significa muito para eles”, explica Fosso, ao distribuir o material entre os 40 jogadores que estão chegando A maioria dos jovens utiliza vestuário e calçado emprestados pela Fundação Brafa ou doados por outras entidades.
Na verdade, o cuidado com o material e instalações é um dos princípios buscados para trabalhar diariamente com os jogadores. A intenção da SPES é influenciar o seu comportamento através do desporto e transmitir valores, que serão essenciais ao lidar com determinadas situações do seu quotidiano. Além de se dividirem em times de onze jogadores e debater quem assume a posição de atacante, os jogos da Fundação Brafa têm como pano de fundo a disseminação de ideais como: pontualidade, autoestimao competitividade saudávela capacidade de adaptação e o comunicaçãoentre outros.
Boa parte desses jovens vem de países subsaarianos e chegar em pasto pelas Ilhas Canárias. Uma vez na península, distribuem-nos por todo o território espanhol. “Cada um tem uma história diferente. Se somos 40 aqui, são 40 histórias diferentes”, enfatiza Fosso. Por esta razão, tanto o treinador como os membros organizadores do programa enfatizam a importância de trabalhar em equipe e respeite o parceiro. Um discurso que é transmitido numa mistura de línguas, que oscilam entre o catalão, o espanhol e o francês. O inter-relação cultural e linguística permite-lhes conhecer outras realidades à sua volta e perceber que não são um caso singular, mas mais uma parte de um sistema que os está a falhar.
O espírito contagiante do capitão
O apito marca o fim do treino e os jogadores das duas equipes se reúnem no meio do campo. Sentado ali, o Rubeno capitão da equipe, inicia uma reflexão em torno de um possível aprendizado que poderiam ter extraído durante o tempo de jogo. Neste caso, eles elaboram as diferentes formas orientado para o sucesso. A seguir, o formador propõe uma dinâmica conjunta, que serve para colocar em prática os conhecimentos adquiridos.
Rubén, natural de Barcelona, chegou à Fundação Brafa de bicicleta, carregando um trailer com todos os seus pertences nas costas. Além de estar em situação de falta de moradia por muito tempo foi vítima do vício em drogas. Já se passaram quatro anos desde então, graças ao esforço e disciplina que demonstrou, alcançou o papel de capitão.
“Eu, no início, fiquei um pouco cego. Mas tenho trabalhado muito psicologicamente desde que cheguei aqui. Há alguns anos, se me tivessem dito para fazer uma entrevista, eu não teria conseguido. Estes treinos têm-me corrido muito bem, tenho uma rotina, estou acompanhado pela minha gente e são um grande apoio”, confessa Rubén. Entre suas responsabilidades, o capitão deverá assumir a tarefa de selecione aqueles jovens que serão convocados por jogar na ligaorganizado pela Fundação Brafa. Para isso, analisa a atitude de cada jogador e se está de acordo com eles valores positivos da entidade. “Estou muito orgulhoso da minha equipa”, acrescenta.
Hoje, ele ainda mora em uma van, que movimenta e estaciona constantemente em diversos pontos da cidade. “Ele é uma pessoa socialmente excluída. No dia que ele quiser, ele mesmo entrará no circuito”, explica Jesus Maria Vilagerente de comunicação da Fundação Brafa.
Na bancada: esperando a burocracia
Antes de sair, todos os jogadores passam pelo chuveiro do vestiário. Entidades como a Fundação Putxet insistem na importância de manter o hábito de higiene pessoalcondição que muitas vezes não ocorre na realidade das pessoas em situação de rua.
Uma vez fora do campo, a maioria dos jogadores recorre a vários cantinas sociais, cursos de idiomas ou centros de recepção espalhados pela cidade. Além da urgência de encontrar trabalho para ganhar a vida, muitos deles enfrentam a pressão adicional para enviar dinheiro para o dele país de origema fim de ajudar a melhorar a situação económica da sua família. No entanto, o limitações para obter nacionalidade e os requisitos necessários para aceder a um emprego dificultam este processo. “Quem está no topo só se preocupa com a burocracia, não se coloca no lugar, deveria vir para o campo de futebol com eles”, reclama Fosso.
Diante de um problema latente como falta de moradia eu exclusão socialo sistema abandona os afectados e ergue barreiras que só eles não conseguem derrubar. No entanto, os centros de acolhimento, como o Fundação Putxeteles fazem tudo o que podem e oferecem saídas, como o futebol, que liberam um pouco da pressão do processo bruto pelo qual esses jovens estão passando.